A abordagem digital está mudando a gestão de recursos hídricos ao permitir decisões mais inteligentes e maior eficiência por meio de monitoramento em tempo real e análise preditiva. Dr Thomas D Krom, diretor do segmento de meio ambiente, Seequent
A água é a força essencial de nossas economias, sociedades e ecossistemas. No entanto, por décadas, nós a subestimamos e administramos mal. Atualmente, os riscos não poderiam ser maiores.
Economia de recursos hídricos – transformação de desafios em oportunidades
A Comissão global sobre economia da água (GCEW, Global Commission on the Economics of Water) ativou o alarme; a escassez de água, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade estão desestabilizando o ciclo hidrológico que sustenta a vida na Terra. Ao mesmo tempo, a União Europeia está redobrando a resiliência à água como base de sua agenda para sustentabilidade.
A questão não é se precisamos agir, é com que rapidez podemos dimensionar soluções que funcionem. A boa notícia é que a água não é apenas um desafio, é também uma oportunidade. Com bilhões de dólares investidos em projetos relacionados à recursos hídricos em todo o mundo, há um mercado crescente de soluções inovadoras, especialmente na área digital, que podem transformar a forma como gerenciamos esse recurso essencial.
Uma enorme lacuna de financiamento e uma chance de fechá-la
Vamos começar pelos números. Atingir o Objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) 6 (água limpa e saneamento para todos) exigirá mais 500 bilhões de dólares anuais em investimentos somente em países de baixa e média renda.
Essa é apenas a ponta do iceberg. Para estabilizar o ciclo global da água — água azul (rios e lagos) e água verde (umidade do solo) — é necessário mais. O Banco Mundial estimou que até 80% dos custos de adaptação climática estão relacionados a recursos hídricos.
Na Europa, o Mecanismo de recuperação e resiliência da UE (RRF, Recovery and Resilience Facility) já investiu 12,92 bilhões de euros em projetos relacionados à água em 15 Estados-membros. A Espanha e a Itália estão liderando o processo ao investirem consideravelmente em redução de vazamentos, melhorias do tratamento de águas residuais e modernização da infraestrutura. Esses esforços não se resumem a conformidade, mas também incluem construção de resiliência em um mundo onde os riscos hídricos estão se tornando cada vez mais imprevisíveis.
Para tomadores de decisão como você, essa significativa lacuna de financiamento representa um apelo à ação e uma enorme oportunidade de liderar.
A Espanha e a Itália são líderes em investimentos em redução de vazamentos, melhorias do tratamento de águas residuais e modernização da infraestrutura.
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A abordagem digital pode ser encorajadora
A tecnologia está redefinindo as regras da gestão de recursos hídricos. Do monitoramento em tempo real à análise preditiva, as abordagens digitais permitem decisões mais inteligentes e oportunas além de operações mais eficientes em todos os setores. Estas são três áreas em que a abordagem digital já está fazendo a diferença e onde as oportunidades de investimentos estão prontas:
1. Gestão digital de recursos hídricos. Imagine poder monitorar a rede de abastecimento de água de uma cidade inteira em tempo real detectando vazamentos antes que eles ocorram ou otimizando a distribuição com base nos padrões de demanda. Isso não é ficção científica; está acontecendo agora em concessionárias como Evides, Agea e Sabesp.
Por que isso importa? Em algumas cidades, até 40% da água é perdida devido a vazamentos. Resolver isso não significa apenas economizar água; é economizar dinheiro.
Quem está investindo? Empresas de capital de risco e players corporativos como a Bentley Systems estão investindo milhões em startups especializadas em sensores otimizados pela Internet das Coisas, análises baseadas em IA e plataformas inteligentes para recursos hídricos.
Destaque da UE: a Comissão Europeia apresentou um mandato político para digitalizar a gestão de recursos hídricos e os serviços públicos de água em sua carta de missão de 2024-29 à comissária Jessika Roswall e continua financiando programas de pesquisa e desenvolvimento, como o Horizon Europe, que apoia projetos de pesquisa avançada no setor.
Detectar vazamentos em tempo real não é ficção científica, é um fato científico.
2. Tratamento e reuso de águas residuais. Em um mundo onde a água doce está se tornando cada vez mais escassa, as águas residuais não são um desperdício; são um recurso que espera para ser explorado.
Por que é importante? O tratamento de águas residuais poderia recuperar cerca de 8% da captação global de água doce, que equivale a todo o uso municipal de água no mundo.
Quem está investindo? Startups como a Gradiant acumularam mais de US$ 392 milhões para ampliar as tecnologias avançadas de tratamento que recuperam nutrientes e energia das águas residuais.
Destaque da UE: de acordo com a sua agenda de economia circular, a UE está investindo consideravelmente em sistemas de reuso de águas residuais que reduzem a poluição e criam valor econômico.
3. Eficiência hídrica na agricultura. A agricultura é responsável por 70% da captação global de água doce, e grande parte dela é desperdiçada devido a sistemas ineficientes de irrigação.
Por que isso importa? A irrigação de precisão em escala pode economizar até 25% do consumo de água irrigada até 2050 e, ao mesmo tempo, aumentar o rendimento das culturas.
Quem está investindo? Startups de agrotecnologia, como a Kilimo, estão usando plataformas de Software como Serviço (SaaS, Software as a Service) para otimizar os cronogramas de irrigação e verificar a economia de água que pode ser monetizada como créditos compensatórios.
Destaque da UE: a UE apoia práticas agrícolas regenerativas por meio de sua Política agrícola comum (PAC, Common Agricultural Policy) criando um terreno fértil para inovação em eficiência agrícola.
A liderança da UE em resiliência hídrica
A Europa se posicionou como líder na abordagem dos desafios globais relacionados à água. O foco da Comissão Europeia em resiliência hídrica ressalta o seu compromisso de alinhar a ação climática com o desenvolvimento econômico. Por meio de estruturas, como o RRF e a Política de coesão, a UE não está apenas financiando atualizações de infraestrutura, mas também analisando mais detalhadamente como promover inovação para tornar esses sistemas mais inteligentes e eficientes.
Mas o que está em vigor agora não é suficiente se consideramos a urgência dos problemas e a lacuna de financiamento. Portanto, os formuladores de políticas e os líderes empresariais devem trabalhar juntos, pois isso representa uma oportunidade única de resolver um problema estratégico europeu e, ao mesmo tempo, explorar um dos mercados de sustentabilidade que mais cresce.
Quem está financiando essa revolução? O cenário para financiamento de soluções hídricas é diverso e crescente:
1. Capital de risco privado: empresas, como o Westly Group, estão apostando alto em startups em fase inicial que desenvolvem tecnologias revolucionárias. As iniciativas corporativas de capital de risco estão visando soluções dimensionáveis para serviços públicos e indústrias. Espera-se que os investimentos em capital de risco quase dobrem em 2025 em comparação com 2024.
2. Instituições financeiras de desenvolvimento (DFIs, Development Finance Institutions): muitas empresas (como o Banco Europeu de Investimento, o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento) estão concedendo empréstimos concessionais para reduzir os riscos de investimentos em mercados emergentes. As DFIs estão cada vez mais apoiando a iniciativa Just Water Partnerships para mobilizar capital privado para regiões carentes.
3. Parcerias público-privadas (PPPs): os governos estão se unindo a entidades privadas para modernizar a infraestrutura por meio de contratos baseados em desempenho. Os exemplos incluem sistemas de detecção de vazamentos financiados por concessionárias municipais na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
4. Iniciativas multilaterais: programas como a Estratégia de água e saneamento de todo o sistema das Nações Unidas visam agilizar o progresso em direção ao ODS 6 promovendo inovação em grande escala.
O que isso significa para você?
A interseção entre tecnologia, financiamento e política apresenta uma oportunidade sem precedentes para transformar a forma como gerimos a água. Ela é um recurso que sustenta tudo, desde a segurança alimentar até a resistência às mudanças climáticas. Para tomadores de decisão, no governo ou nas empresas, não se trata apenas de resolver problemas, trata-se de aproveitar oportunidades.
Ao investir em soluções digitais (sejam elas plataformas de monitoramento digital para serviços públicos, tecnologias avançadas de tratamento de águas residuais para indústrias ou ferramentas para precisão no setor de agricultura), você pode gerar um impacto mensurável e, ao mesmo tempo, aumentar o valor econômico de longo prazo.
Considerando a enorme lacuna de financiamento e a natureza estratégica desses desafios, agora é a hora de liderar com ousadia. Juntos, podemos remodelar a Europa e garantir que a segurança hídrica se torne um marco do desenvolvimento sustentável em todo o mundo.