Por Dr. Thomas D. Krom, diretor do segmento de meio ambiente, Seequent
Na era digital atual, as centrais de dados são a espinha dorsal do nosso mundo conectado, impulsionando tudo — dos serviços em nuvem aos aplicativos orientados por inteligência artificial. Empresas que trabalham em hiperescala, como Microsoft, Google e Amazon Web Services, estão construindo infraestruturas maiores e mais rápidas do que nunca. A McKinsey estima que, até 2030, serão investidos cerca de US$ 7 trilhões em infraestrutura de centrais de dados em todo o mundo. A construção e operação eficientes e resilientes de centrais de dados são imprescindíveis para que as operadoras consigam acompanhar a demanda e manter sua licença social para operar.
Um aspecto frequentemente negligenciado no planejamento e na operação de centrais de dados é a necessidade de compreender a subsuperfície. A subsuperfície não é apenas o solo e a rocha sobre os quais uma central de dados é construída: é um ambiente dinâmico, muitas vezes pouco compreendido, que pode representar tanto um grande risco quanto uma oportunidade estratégica.
As ameaças invisíveis ao tempo em atividade
Antes mesmo de o primeiro servidor ser instalado no rack, uma decisão crucial precisa ser tomada: onde construir. Com muita frequência, essa decisão se baseia em fatores ligados à superfície, como o custo do terreno e o acesso à fibra óptica. Já as realidades geológicas sob o solo são ignoradas. Construir em terreno instável ou em zona de atividade sísmica é o mesmo que construir um castelo de cartas. O que acontece quando condições imprevistas do solo — por exemplo, a descoberta de um solo contaminado que precisa ser remediado — geram atrasos caros na construção e aumento do desperdício de materiais? Ou pior: quando leves movimentações do solo ou pequenos tremores sísmicos comprometem a integridade estrutural de uma instalação projetada para operar ininterruptamente?
Os gêmeos digitais que incorporam a compreensão da subsuperfície são um caminho para quantificar esses riscos, avaliar estratégias de mitigação e comunicar essas informações críticas aos stakeholders.
As mudanças climáticas acrescentam mais uma camada de risco invisível. O aumento do nível do mar e os eventos climáticos extremos estão criando novos riscos de inundação — tanto provenientes de rios quanto das chuvas. A alteração dos níveis das águas subterrâneas pode afetar a estabilidade das fundações e até mesmo comprometer a infraestrutura. Um gêmeo digital orientado por dados da subsuperfície possibilita a escolha e a operação do local com uma compreensão profunda dessas ameaças estratégicas em constante evolução — uma etapa essencial de due diligence.
O paradoxo do poder da IA
Bob Pragada, CEO da Jacobs Solutions, disse recentemente a Jim Cramer, da CNBC, que, desde que a Jacobs começou a atuar em centrais de dados em 2007, e —especialmente após o advento da IA — essas centrais se tornaram muito mais complexas de construir e gerenciar. Ele destacou o valor da criação de um gêmeo digital, explicando que, com ele, é possível simular em um ambiente digital o que está acontecendo com a carga computacional, o efeito que isso tem sobre as necessidades de recursos e, a longo prazo, como operá-lo.
Pragada afirmou que existem locais onde a rede elétrica consegue suprir as necessidades energéticas e outros onde não consegue, o que significa que é necessário considerar fontes alternativas de energia. À medida que a demanda por energia aumenta — e considerando a volatilidade dos preços e os problemas na rede elétrica — criar capacidade confiável disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, é a escolha mais inteligente. A chave está na subsuperfície, para aqueles que estiverem dispostos a procurar.
A energia geotérmica é uma opção de renovação confiável que pode fornecer segurança energética para centrais de dados.
A energia geotérmica de nova geração, pioneira em empresas como a Fervo Energy, é um divisor de águas. Em um projeto pioneiro, a Fervo desenvolveu um sistema geotérmico aprimorado que agora fornece energia livre de carbono, 24 horas por dia, 7 dias por semana, às centrais de dados do Google em Nevada. A empresa usou a modelagem avançada de subsuperfície da Seequent para dar suporte à perfuração de poços horizontais em rochas quentes anteriormente inacessíveis, criando uma fonte de energia confiável e “sempre ativa”. Mas não são apenas as tecnologias de nova geração que impulsionam esse futuro. A energia geotérmica tradicional é muito procurada porque fornece energia de base continuamente disponível — e as centrais de dados que alimentam nosso mundo sempre conectado não podem se dar ao luxo de interrupções. Na Nova Zelândia, outro cliente da Seequent, a Contact Energy, financiou parcialmente sua usina geotérmica Te Huka 3 em um contrato de compra de energia de 10 anos com a Microsoft, que está construindo três centrais de dados próximas a Auckland.
Considerar a segurança energética para centrais de dados não é apenas uma questão de estabilidade; é uma vantagem competitiva, especialmente quando soluções renováveis e confiáveis podem ser implementadas, enquanto outros permanecem presos a redes de energia instáveis.
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As guerras da água: uma corrida contra o tempo
Os recursos hídricos mundiais estão sob pressão, e as centrais de dados podem ser grandes consumidoras de água.
Fonte: Shutterstock
O consumo de água de uma central de dados — que pode chegar a 19 milhões de litros (ou 5 milhões de galões) por dia, o mesmo que uma pequena cidade — transforma essas instalações em pontos de conflito com as comunidades e em focos de risco regulatório. Comunidades nos EUA, Canadá, Europa e outros lugares estão se mobilizando para questionar o impacto local das centrais de dados, levantando questões sobre uma série de assuntos, começando por uma de nossas necessidades humanas mais fundamentais — o acesso à água — e o aumento da pressão sobre os recursos hídricos, que já estão sob forte pressão. Investir sem segurança quanto à disponibilidade de água é o caminho mais rápido para transformar um investimento em um ativo encalhado. Compreender a subsuperfície elimina as suposições — e o seu gêmeo digital também pode incorporar esses dados. Ele permite aos operadores mapear e modelar com precisão a capacidade do aquífero, simular o impacto da extração e garantir um abastecimento sustentável que não ameace as comunidades locais. É a ferramenta que permite ao operador deixar de ser apenas um consumidor de água para se tornar um gestor estratégico de recursos hídricos. Você não está apenas evitando uma guerra pela água; está garantindo sua licença social para operar por décadas.
Da vulnerabilidade à resiliência
Considerar a subsuperfície não é uma questão de escolha; é fundamental para a viabilidade a longo prazo de uma central de dados. Todos os aspectos do ciclo de vida, desde a estabilidade de suas fundações até a sustentabilidade de suas fontes de energia e água, dependem de uma compreensão profunda do solo subjacente.
Ao adotar uma abordagem de gêmeo digital que inclua informações vitais sobre a subsuperfície, conectando o panorama acima e abaixo do solo, os proprietários e operadores de centrais de dados podem transformar seu maior risco oculto em um ativo.
Mas será que esses riscos estão sendo levados a sério e as medidas corretas estão sendo tomadas para gerenciá-los? Chegou o momento de deixar as apostas de lado e começar a construir o futuro da infraestrutura digital global sobre bases sólidas e seguras.